A bênção de ser uma bênção em Cuba Relato de viagem de um correspondente de Portas Abertas Foi muito gratificante visitar meus irmãos na ilha de Cuba. Apesar das pressões constantes e sofisticadas feitas pelo governo contra pastores e líderes cristãos importantes, a Igreja Cubana continua crescendo e se desenvolvendo. Vou dar um exemplo do que significou para mim essa visita. Há algum tempo, eu plantei uma árvore no quintal da minha casa. Durante uns tempos eu fiquei muito ocupado e não pude cuidar da árvore como devia, por isso, quando fui ver como ela estava, notei que ela se tornara fraca, apesar de ainda estar viva. Meu recurso para fortalecê-la foi pegar alguns galhos secos de outra árvore, usando-os como apoio. Depois de vários dias, voltei para verificar o seu progresso. Fiquei surpreso ao ver que não somente os galhos tinham fortalecido a árvore fraca, mas que os próprios galhos tinham brotado novamente. Isso ilustrou muito bem o que tenho experimentado com meus irmãos e irmãs em Cristo, em Cuba. Eu me sinto como um daqueles ramos que pareciam como se estivessem prontos para morrer e, pelo simples fato de serem usados pelo Senhor para sustentar nossa amada Igreja Cubana (a árvore enfraquecida), Deus me abençoou ao me renovar o espírito missionário e o da irmandade cristã. Eu creio que Deus está nos chamando de uma forma especial, dizendo que muitos de nós deveríamos nos tornar os braços com os quais Deus pode sábia e efetivamente sustentar essa Igreja que agora, mais do que nunca, precisa de tal apoio". Veja o ponto de vista de um mensageiro Viajamos em dezembro. O impacto da viagem começou no momento de fazer as malas. Nesta etapa, quando nossas malas já estavam bastante pesadas, foi-nos entregue uma caixa de livros que nos deixou surpresos por um momento, pois vinha com uma nota que dizia: "Peguem o que acharem que podem e devolvam o restante". Depois de alguns dias de oração, meu parceiro de viagem e eu sentimos que deveríamos empacotar tudo, o que significava que com as roupas das crianças, suprimentos médicos etc., nossa bagagem pesava bem mais que o limite. Mas como ninguém nos questionara sobre o peso em nossa última viagem, isso não nos preocupava. O motorista de táxi, ao lutar para colocar nossas malas em seu carro nos disse, "Não se preocupem, é a quantidade de itens que importa naquele vôo, não o peso". Isso nos deixou um pouco mais confiantes – até que as malas foram pesadas no balcão para o despacho de bagagens. "Isto está pesado demais!" disse o balconista imediatamente. Nós oramos e explicamos que pensávamos que fosse a quantidade de itens que importava e não o peso, e oramos um pouco mais. O balconista pensou um pouco, encolheu os ombros e deixou passar sem mais perguntas e sem excesso de peso. Agradecemos ao Senhor! Chegamos em Havana A alfândega do aeroporto de Jose Marti, em Havana, pareceu ter relaxado um tanto desde nossa última viagem. O controle de passaporte na verdade sorriu para nós e outros funcionários ficaram por ali sem prestar muita atenção. Pegamos nossas malas e fomos embora. Chegamos ao nosso hotel na cidade, onde ficamos surpresos em ver uma árvore de Natal. Alguns dos cristãos que visitamos também tinham árvores de Natal e, quando lhes falamos da nossa surpresa no hotel, eles disseram que as árvores de Natal se tornaram disponíveis depois da recente visita do Papa. Uma saída divina Os funcionários do balcão de despacho de bagagens dos nossos vôos para o interior apresentaram o obstáculo seguinte. Foram menos amistosos, e quanto ao peso das nossas malas um balconista pensou que fôssemos três. Quando ele viu que éramos somente dois, disse: "Não" e chamou um superior, que balançava a cabeça enquanto olhava para as malas. Nós oramos! Enquanto esperávamos na fila tínhamos começado a conversar com um negociante cubano que esperava por nós depois de ter sido atendido no balcão de embarque. De repente, ele entrou na briga e começou a discutir com os funcionários. Como tudo acontecia em espanhol, não entendíamos uma palavra sequer, mas no final o balconista do despacho de bagagens etiquetou nossas malas, despachou-as e deu-nos os cartões de embarque sem dizer mais nada. Nosso vôo atrasou duas horas, por isso ficamos conversando com o negociante que nos disse que ia encontrar-se um um alto funcionário do governo e queria nos apresentar a ele. Na chegada fomos devidamente apresentados a ele e seu assistente, apesar dele não parecer muito contente em nos conhecer. No final, o Partido Comunista ajudou-nos a transportar nossa carga de livros e Bíblias ao seu destino! Quem disse que o Senhor não tem senso de humor? Encontro com o primeiro contato No hotel, nós alugamos um carro e nos dirigimos para nosso primeiro contato. Mas Deus tinha outros planos. Assim que nos aproximávamos de nosso destino, sentimos que as coisas "não cheiravam bem", porque havia muitos carros de polícia patrulhando a área. Por isso, decidimos ir para uma igreja diferente. Eles foram muito receptivos e nos mostraram o grande edifício da igreja que está em ruínas porque eles não conseguem permissão para reforma e não têm recursos para os reparos mesmo que tivessem permissão. As autoridades dizem que o prédio precisa ser demolido porque não é seguro, mas os cristãos seguem na fé, tendo feito planos ambiciosos para reconstruir a igreja com materiais à prova de terremoto. Parece que eles têm a fé que move montanhas, por isso reconstruir uma igreja sem recursos num país que proíbe a construção (ou a reforma) de qualquer igreja não é problema para eles. Eles têm três cultos dominicais para atender os membros. Demos a eles uma coleção de livros doados pela nossa igreja. Na véspera de Natal, nós voltamos para um culto lá com um concerto incrível de alguns cantores fantásticos. Fomos tratados como reis. Dezessete pessoas decidiram-se por Cristo. Depois, o pastor nos deu o nome e a localização do pastor de uma igreja doméstica não muito distante do nosso hotel. Ousadia e criatividade Fomos a um culto naquela igreja, que tem uma congregação regular de cerca de 150 pessoas. A igreja não tem paredes porque o governo disse-lhes que a igreja deve ser demolida e que eles não devem construir mais nenhuma. Entretanto eles desafiam esta ordem e estão planejando construir as laterais da igreja num esforço para livrar-se dos mosquitos! Eles nos disseram que a congregação decidiu que o governo teria de derrubar a igreja na cabeça deles, porque eles não iam ficar esperando e olhando sua igreja ser destruída. Eles oram muito, e até agora o governo não cumpriu suas ameaças. A igreja em si é registrada, mas o prédio foi construído em desacordo com as normas que proíbem a construção de novas igrejas. A criatividade deles nunca cessou de nos surpreender quando eles nos levaram para uma volta em suas casas. Luzes pisca-pisca são feitas de garrafas plásticas de desodorante, dois fios simples e um pouco de lâmina de metal! Experimentamos um pouco do que é a vida em Cuba ao passar um momento com esta família: vendo como eles têm de ficar nas filas durante horas para conseguir rações de alimento básico e observando a entrega de água de um vizinho, morro abaixo através de uma mangueira comprida e muito velha para grandes barris. Nós fomos muito privilegiados em sermos convidados para o jantar do dia depois do Natal... eles não aceitariam uma não como resposta e destrincharam e prepararam uma de suas galinhas para nós. O pastor fez muitas perguntas sobre a nossa igreja e se as pessoas estavam "no fogo" por Deus. Estar a disposição do Senhor Quando lhe perguntamos como poderíamos orar por ele, ele disse que tudo o que eles querem é a oportunidade de viver uma "vida normal". A visão deles é unir todas as igrejas e pastores de sua área para trabalharem juntos na evangelização dos perdidos. Sua outra grande necessidade era de transporte, porque ele tem de pedir carona a outros, ou caminhar até suas igrejas domésticas nas montanhas e locais mais distantes. No final da nossa visita sobrou algum dinheiro e oramos sobre o que fazer com ele. Sentimos que ele iria para uma bicicleta para este pastor, sem ter idéia de quanto uma poderia custar em Cuba. Quando encontramos com ele e contamos nossos pensamentos, ele (como era de se esperar) recusou-se a pegar o dinheiro. Nós então perguntamos a ele quanto ele achava que uma bicicleta poderia custar e, quando ele nos disse, era exatamente a quantia que queríamos lhe dar, o que o convenceu que aquilo era de Deus. Quando ele recebeu o dinheiro de nós, quase em lágrimas, ele disse que estivera orando por uma bicicleta há muito tempo, esperando apenas por uma usada. Ele nunca sonhara que Deus lhe daria uma novinha em folha. Encontramos outro pastor a quem havíamos tentado contatar. Ele e a esposa, que tem diabetes e parecia perigosamente magra, têm seus vinte anos. Eles foram muito amáveis e receptivos, mas como o inglês deles era tão ruim como o meu espanhol, ele providenciou uma tradutora. Ele nos levou para o centro médico, onde a esposa de um pastor, que falava razoavelmente bem o inglês, ficou muito feliz em traduzir. Ela estava ansiosa em nos apresentar à igreja e levou-nos à casa onde a igreja se reúne. Alguns membros estavam ensaiando uma peça de Natal. Ela pediu-me que pregasse num dos seus cultos e me pediu para falar devagar já que ela não era muito firme na tradução. Concordei com os dois pedidos, mas não tenho certeza pelo qual sou mais grato! O pastor providenciou um encontro conosco na porta do nosso hotel em determinada noite para nos levar e trazer até sua igreja. Quando ele chegou, estava escuro como breu, e vimos outro exemplo da simplicidade cubana: ele clareou o nosso caminho com uma lamparina feita com uma velha garrafa de vinho. Quando perguntei o que havia na garrafa, ele respondeu: "gasolina". Era a primeira vez que tínhamos o nosso caminho até a igreja iluminado por um "Coquetel Molotov"! O culto foi fantástico Começando com meia hora de oração. Todos, jovens e adultos, viraram-se e ajoelharam em seus bancos para orar sem almofadas bordadas para os joelhos daqueles santos de Deus! Isso foi seguido de cerca de quarenta minutos de louvor e adoração. A família de Deus é fantástica – quem precisa de um tradutor? Em seguida, eles todos insistiram em posar para fotos e o pastor apresentou cada um deles para nós – o líder do louvor, os líderes da igreja doméstica, o professor da escola dominical, e assim por diante, até que ele disse: "e todos os demais são evangelistas" ao que todos deram uma grande aclamação. O pastor apresentou-nos um de seus amigos, também pastor de uma igreja similar que ficava a alguns quilômetros de distância. Infelizmente, não pudemos visitar sua igreja, porque já estávamos no fim da nossa estadia em Cuba, mas pudemos deixar uma mala de roupas e alguns medicamentos. As necessidades dos cristãos cubanos Nossa impressão geral foi que as maiores necessidades estão dentro da esfera econômica e social. Muitos cristãos parecem ter suas próprias Bíblias e algumas estão um tanto surradas pelo uso. As remessas de livros e Bíblias devem definitivamente continuar, mas alimento, roupas, suprimentos médicos e transporte são as necessidades bastante grandes também. Apesar de ter havido alguma mudança positiva nos últimos anos, a perseguição ainda é uma realidade, e sempre que perguntávamos a respeito do governo, obtínhamos respostas sussurradas. A igreja evangélica em Cuba está viva, está bem, expandindo-se e precisa do nosso contínuo apoio e oração. portasabertas.org.br |