Introdução
ao 16º Livro bíblico: Neemias
Escritor: Neemias.
Lugar da Escrita: Jerusalém.
Escrita Completada: cerca de 430 - 420
a.C.
Tema: Reedificação dos muros de
Jerusalém.
Neemias, cujo nome significa “Deus Consola”, era servo
judeu do rei persa Artaxerxes. Era copeiro do rei. Esta era uma posição
de grande confiança e honra, e desejável, pois dava acesso ao rei em
ocasiões em que este estava de espírito alegre e disposto a conceder
favores. Entretanto, Neemias era um daqueles fiéis exilados que preferiu
Jerusalém acima de qualquer “causa de alegria” pessoal. (Sal. 137:5,
6) Não era posição ou riqueza material que ocupava o primeiro lugar
nos pensamentos de Neemias, mas, antes, a restauração da adoração de
Deus.
Em 456 a.C., os “que remanesceram do cativeiro”, o restante
judeu que retornara a Jerusalém, não estavam prosperando. Estavam numa
situação lamentável. (Nee. 1:3) A muralha da cidade era um entulho,
e o povo era um vitupério aos olhos de seus adversários sempre presentes.
Neemias estava pesaroso.
Contudo, era o tempo determinado do Senhor Deus para que se fizesse
algo a respeito das muralhas de Jerusalém. Com ou sem inimigos, Jerusalém
com sua muralha protetora precisa ser construída como marco no tempo,
em conexão com uma profecia que Deus dera a Daniel sobre a vinda do
Messias. (Dan. 9:24-27) Por conseguinte, Deus guiou os eventos, usando
o fiel e zeloso Neemias para executar a vontade divina.
Neemias é, sem dúvida, o escritor do livro que leva seu nome.
A declaração inicial: “As palavras de Neemias, filho de Hacalias”, e
o uso da primeira pessoa no texto provam claramente isto. (Nee. 1:1)
Originalmente os livros de Esdras e Neemias eram um só livro, chamado
Esdras.
Mais tarde, os judeus dividiram o livro em Primeiro e Segundo Esdras,
e ainda mais tarde, Segundo Esdras veio a ser conhecido como Neemias.
Há um intervalo de cerca de 12 anos entre os eventos finais de Esdras
e os eventos iniciais de Neemias, cuja história abrange então o período
do fim de 456 a.C. até depois de 443 a.C.. — Neemias 1:1; 5:14; 13:6.
O livro de Neemias se harmoniza com o restante da Escritura
inspirada, da qual faz legitimamente parte. Contém numerosas alusões
à Lei, fazendo menção de assuntos tais como alianças matrimoniais com
estrangeiros (Deut. 7:3; Nee. 10:30), empréstimos (Lev. 25:35-38; Deut.
15:7-11; Nee. 5:2-11) e a Festividade das Barracas (Deut. 31:10-13;
Nee. 8:14-18). Ademais, o livro marca o início do cumprimento da profecia
de Daniel de que Jerusalém seria reconstruída, mas não sem oposição,
“no aperto dos tempos”. — Dan. 9:25.
Que dizer da data de 455 a.C. para a viagem de Neemias a Jerusalém,
a fim de reconstruir a muralha da cidade? Evidências históricas fidedignas
de fontes gregas, persas e babilônicas apontam para 475 a.C. como o
ano da ascensão de Artaxerxes e para 474 a.C. como seu primeiro ano
de reinado. Isto faz com que seu 20.° ano seja 455 a.C.. Neemias 2:1-8
indica que foi na primavera setentrional daquele ano, no mês judaico
de nisã, que Neemias, o copeiro real, recebeu do rei permissão para
restaurar e reconstruir Jerusalém, sua muralha e seus portões. A profecia
de Daniel declarava que se passariam 69 semanas de anos, ou 483 anos,
“desde a saída da palavra para se restaurar e reconstruir Jerusalém
até o Messias, o Líder” — uma profecia que se cumpriu de modo notável,
se harmoniza tanto com a história secular como com a bíblica. (Dan.
9:24-27; Luc. 3:1-3, 23) Deveras, os livros de Neemias e Lucas se harmonizam
notavelmente com a profecia de Daniel em indicar ao Senhor Deus como
o Autor e Cumpridor de profecias verdadeiras! Neemias faz realmente
parte das Escrituras inspiradas.
CONTEÚDO DE NEEMIAS
Neemias é enviado a Jerusalém (1:1–2:20). Neemias fica grandemente
perturbado com o relato de Hanani, que retornou a Susã, vindo de Jerusalém,
trazendo notícias sobre os grandes apuros dos judeus ali, e sobre o
estado derrocado da muralha e dos portões. Ele jejua e ora ao Senhor
como o “Deus dos céus, o Deus grande e atemorizante, guardando o pacto
e a benevolência para com os que o amam e que guardam os seus mandamentos”.
(1:5) Confessa os pecados de Israel e pede que Deus se lembre do Seu
povo por causa do Seu nome, assim como prometera a Moisés. (Deut. 30:1-10)
Quando o rei pergunta a Neemias sobre o motivo de seu semblante triste,
Neemias lhe conta sobre a condição de Jerusalém e pede permissão para
voltar e reconstruir a cidade e sua muralha. Seu pedido é concedido,
e ele viaja imediatamente a Jerusalém. Após uma inspeção noturna da
muralha da cidade, para se familiarizar com o trabalho à frente, revela
seu plano aos judeus, frisando a mão de Deus no assunto. Diante disso,
dizem: “Levantemo-nos, e temos de construir.” (Nee. 2:18) Quando os
vizinhos samaritanos e outros ficam sabendo que o trabalho foi iniciado,
começam a zombar e escarnecer.
A muralha reconstruída (3:1–6:19). O trabalho na muralha começa
no terceiro dia do quinto mês, participando unidamente na labuta os
sacerdotes, os príncipes e o povo. Os portões da cidade e as muralhas
entre estes são consertados rapidamente. Sambalá, o horonita, escarnece:
“Que fazem estes judeus decrépitos? . . . Acabarão num dia?” A isto,
Tobias, o amonita, acrescenta seu escárnio: “Mesmo aquilo que estão
construindo, se uma raposa subisse contra aquilo, certamente derrocaria
a sua muralha de pedras.” (4:2, 3) Quando a muralha atinge a metade
de sua altura, os adversários associados ficam furiosos e conspiram
vir lutar contra Jerusalém.
Mas Neemias exorta os judeus a lembrar-se de “Deus, o Grande e o Atemorizante”,
e a lutar por suas famílias e por seus lares. (4:14) O trabalho é reorganizado
de modo a enfrentar a situação tensa; alguns ficam de guarda com lanças,
ao passo que outros trabalham com a espada sobre o quadril.4:18
Todavia, há também problemas entre os próprios judeus. Alguns deles
cobram usura dos co-adoradores de Deus, contrário à Sua lei. (Êxo. 22:25)
Neemias corrige a situação, aconselhando contra o materialismo, e o
povo aquiesce voluntariamente. O próprio Neemias, durante todos os seus
12 anos de governo. nunca reclama o pão devido a ele como governador,
por causa do trabalho pesado a que o povo está sujeito.
Os inimigos tentam então táticas mais sutis para interromper a construção.
Convidam Neemias a descer para uma conferência, mas este replica que
não pode largar o grande trabalho que está realizando. Sambalá acusa
Neemias de rebelião e de planejar fazer-se rei de Judá, e contrata secretamente
um judeu para amedrontar a Neemias, para que este se escondesse indevidamente
no templo. Neemias não se deixa intimidar, e calma e obedientemente
prossegue com sua incumbência dada por Deus. A muralha é terminada “em
cinqüenta e dois dias”. — Nee. 6:15.
Instruindo o povo (7:1–12:26). Há bem poucas pessoas e casas na
cidade, porque a maioria dos israelitas reside fora, segundo suas heranças
tribais. Deus orienta Neemias a reunir os nobres e todo o povo, a fim
de registrá-los genealogicamente. Ao fazer isso, consulta o registro
dos que voltaram de Babilônia. Convoca-se, a seguir, uma assembléia
de oito dias na praça pública, junto ao Portão das Águas. Esdras inicia
o programa, de pé num estrado de madeira. Bendiz a Deus e daí lê o livro
da Lei de Moisés, desde o amanhecer até o meio-dia. É habilmente assistido
por outros levitas, que explicam a Lei ao povo e continuam ‘a ler alto
no livro, na Lei do verdadeiro Deus, fornecendo-se esclarecimento e
dando-se o sentido dela; e continuam a tornar a leitura compreensível’.
(8:8) Neemias exorta o povo a festejar e a se regozijar, e a apreciar
a força das palavras: “O regozijo do Senhor Deus é o vosso baluarte.”
— 8:10.
No segundo dia da assembléia, os cabeças do povo realizam uma reunião
especial com Esdras, para se inteirarem da Lei. Ficam sabendo da Festividade
das Barracas que deve ser celebrada nesse sétimo mês, e tomam imediatamente
providências para armar barracas para essa festa para Deus. Há “muitíssima
alegria” enquanto residem por sete dias em barracas, ouvindo dia após
dia a leitura da Lei. No oitavo dia, realizam uma assembléia solene,
“segundo a regra”. — Nee. 8:17, 18; Lev. 23:33-36.
No 24° dia do mesmo mês, os filhos de Israel se reúnem outra vez e passam
a se separar de todos os estrangeiros. Ouvem a leitura especial da Lei
e então a recapitulação escrutinadora dos tratos de Deus com Israel,
apresentada por um grupo de levitas. Esta tem como tema: “Levantai-vos,
bendizei ao Senhor, vosso Deus, de tempo indefinido a tempo indefinido.
E bendigam o teu glorioso nome, que é enaltecido acima de toda bênção
e louvor.” (Nee. 9:5) Passam então a confessar os pecados de seus antepassados
e pedem humildemente a bênção de Deus. Isto se dá na forma duma resolução
atestada pelo selo dos representantes daquela nação. O inteiro grupo
concorda em abster-se de formar alianças matrimoniais com os povos do
país, em guardar os sábados, e em manter o serviço do templo e os trabalhadores.
Uma pessoa de cada dez é selecionada por sorte para residir permanentemente
em Jerusalém, dentro das muralhas.
A dedicação da muralha (12:27–13:3). A dedicação da recém-construída
muralha é um tempo de canto e felicidade. É ocasião de outra assembléia.
Neemias providencia dois grandes coros de agradecimento e procissões
para andarem sobre a muralha em direções opostas, encontrando-se finalmente
para oferecer sacrifícios na casa de Deus. Fazem-se arranjos para contribuições
materiais para o sustento dos sacerdotes e dos levitas no templo. Uma
leitura adicional da Bíblia revela que os amonitas e os moabitas não
devem ter permissão de entrar na congregação, e, assim, começam a separar
toda a mistura de gente de Israel.
Purificação da impureza
(13:4-31). Depois de passar algum tempo em Babilônia, Neemias retorna
a Jerusalém e descobre que se infiltraram entre os judeus novos atos
condenáveis. Quão rapidamente as coisas mudaram! O sumo sacerdote Eliasibe
chega a fazer um refeitório no pátio do templo para o uso de Tobias,
um amonita, um dos inimigos de Deus. Neemias não perde tempo. Lança
fora a mobília de Tobias e manda purificar todos os refeitórios. Descobre
também que as contribuições materiais para os levitas foram descontinuadas,
de modo que eles estão saindo de Jerusalém para ganhar a vida. Grassa
o comercialismo na cidade. O sábado não é guardado. Neemias lhes diz:
“Acrescentais à ira ardente contra Israel, profanando o sábado.” (13:18)
Ele fecha os portões da cidade no sábado para manter fora os negociantes,
e ordena-lhes que fiquem longe da muralha da cidade. Mas há um mal pior
do que este, algo que haviam concordado solenemente em não fazer de
novo. Trouxeram esposas estrangeiras, pagãs, para dentro da cidade.
Já a prole de tais uniões não mais fala o idioma judaico. Neemias lhes
faz lembrar que Salomão pecou por causa de esposas estrangeiras. Devido
a este pecado, Neemias manda embora o neto de Eliasibe, o sumo sacerdote.
Daí, organiza o sacerdócio e o trabalho dos levitas.
Neemias termina seu livro com o simples e humilde pedido: “Lembra-te
deveras de mim, ó meu Deus, para o bem.” — 13:31.
TIRANDO PROVEITO
PARA OS NOSSOS DIAS
A devoção piedosa de Neemias deve servir de inspiração
para todos os que amam a adoração correta. Ele abandonou uma posição
favorecida para se tornar humilde lider entre o povo de Deus. Recusou até
mesmo a contribuição material a que tinha direito, e condenou terminantemente
o materialismo como um laço. Seguir e guardar zelosamente a adoração de Deus
foi o que Neemias advogou para a inteira nação. (5:14, 15; 13:10-13) Neemias
foi um esplêndido exemplo para nós por ser inteiramente altruísta e discreto,
um homem de ação, destemido em favor da justiça em face do perigo. (4:14, 19,
20; 6:3, 15) Tinha o correto temor de Deus e estava interessado em edificar
seus conservos na fé. (13:14; 8:9) Aplicou vigorosamente a lei de Deus,
especialmente no que tange à adoração verdadeira e à rejeição de influências
estrangeiras, tais como os casamentos com pagãos. — 13:8, 23-29.
Em todo o livro se evidencia que Neemias tinha um bom conhecimento da
lei de Deus, e que fez bom uso disso. Invocou a bênção de Deus por causa
da promessa em Deuteronômio 30:1-4, tendo plena fé de que Deus agiria
lealmente para com ele. (Nee. 1:8, 9) Programou diversas assembléias,
principalmente para familiarizar os judeus com as coisas escritas anteriormente.
Ao ler a Lei, Neemias e Esdras foram diligentes em tornar a Palavra
de Deus compreensível para o povo, e em dar seqüência a isso por colocá-la
em prática. — 8:8, 13-16; 13:1-3.
A completa confiança de Neemias em Deus, e seus humildes pedidos devem
incentivar-nos a desenvolver uma atitude similar de devota dependência
de Deus. Note como suas orações glorificavam a Deus, indicavam o reconhecimento
dos pecados do seu povo, e solicitavam que o nome do Senhor fosse santificado.
(1:4-11; 4:14; 6:14; 13:14, 29, 31) Que este zeloso lider era fonte
de força para o povo de Deus se demonstra na prontidão com que seguiram
a sua direção sábia, e na alegria que derivaram de fazer a vontade de
Deus junto com ele. Deveras um exemplo inspirador! Entretanto, na ausência
dum lider sábio, quão rapidamente se infiltraram o materialismo, a corrupção,
e a crassa apostasia! Isto certamente deve inculcar em todos os dirigentes
do povo de Deus hoje a necessidade de estarem ativos, alertas e zelosos
no tocante aos interesses de seus irmãos cristãos, e de compreensão
e firmeza ao guiá-los nos caminhos da verdadeira adoração.
Neemias mostrou forte confiança na Palavra de Deus. Não só foi instrutor
zeloso das Escrituras, mas também usou-as para estabelecer as heranças
genealógicas e o serviço dos sacerdotes e dos levitas entre o povo restaurado
de Deus. (Nee. 1:8; 11:1–12:26; Jos. 14:1–21:45) Isto deve ter sido
de grande encorajamento para o restante judeu. Fortaleceu a confiança
deles nas grandiosas promessas feitas previamente, relativas à Semente
e à restauração maior a vir sob Seu Reino. É a esperança na restauração
do Reino que estimula os servos de Deus a lutar corajosamente pelos
interesses do Reino e a estar ocupados na edificação da verdadeira adoração
em toda a terra.
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